domingo, 29 de julho de 2012

Da Serra do Marão ao Douro, a desaguar no Porto.


Ó Serra das divinas madrugadas,

Das estrelas, das nuvens e do vento

E das águias enormes, chamuscadas

Do sol e dos relâmpagos vermelhos!

Ó trágico Marão! Ó serra esfíngica,

De muda e dolorosa face humana,

Com a cauda ondeante sobre o Minho

E as garras sobre a terra transmontana!



                                                    Teixeira de Pascoaes, Sombras



A Serra do Marão constitui a referência paisagística mais importante do território transmontano, por este motivo foi criada em 19 de Fevereiro de 1958, D.G. nº 41533, a Região de Turismo da Serra do Marão, agregando os concelhos de aquém e além serra, conciliando os interesses e as semelhanças dos povos da entrada na província com as da região de Basto, estendendo-se ainda pelos concelhos durienses de Alijó, Sabrosa e Murça.



                Este espaço biogeográfico com características únicas, o mais sublime de Portugal, foi promovido e divulgado como um todo, criando sinergias de reconhecimento que advieram de presenças constantes nas feiras e eventos do “trade”, com enorme entusiasmo, dedicação e qualidade muito superior á quantidade dos recursos disponíveis. Criou-se assim, durante cinco décadas, um produto, uma marca e um destino.

               

                A atividade turística tem sido apresentada como uma “poção mágica” para resolução das dificuldades do país. Ao longo dos tempos aparecem inúmeros relatórios, programas de intenções e conselhos de refutados gurus que constantemente mudam o rumo das agulhas. Tanto fazem e desfazem ministérios, como secretarias de estado e ultimamente institutos públicos, consoante as correntes e modas dos tempos ou das ideologias governativas. Todo este percurso turbulento e ziguezagueante é nefasto para a indústria em si e para os seus agentes, sejam eles privados ou institucionais.



                Contraditoriamente, nas últimas décadas surgiram apoios financeiros únicos através dos programas LEADER´s, PRODER´s, QREN´s e outros.      Apareceram agentes implementadores com propósitos e recursos recheados de milhões que nunca conseguiram implementar nem desenvolver dinâmicas de sustentabilidade do produto turístico visíveis na região.



                Estas sobreposições e perturbações constantes conduziram, entre outros malefícios, ao términus da Região de Turismo da Serra do Marão, desta à entidade do Turismo do Douro, passando agora para a Entidade de Turismo do Porto e Norte de Portugal.



                Teremos urgentemente que voltar às origens servindo autenticidade e proximidade, conservando a memória coletiva através dos produtos e dos saberes das populações, potenciando os recursos naturais onde a preservação da qualidade da água é fundamental, embelezando a paisagem, renovando e regenerando todo o meio envolvente, promovendo-se a excelência, comercializando a raridade.



                No Marão temos condições únicas, como nos foi demonstrado recentemente por Elísio Amaral Neves, um ex-Presidente da Região de Turismo da Serra do Marão, o de melhor memória, que divulgou um trabalho de 1906 onde o Dr. Cerqueira Magro defendia a criação de uma estância na Serra, explorando as potencialidades das nascentes do Ramalhoso.



                O Padre Francisco Alves, em 1929, na exposição portuguesa realizada em Sevilha definia “o transmontano é robusto e inteligente, habita um clima seco e rigoroso com paisagem vasta. Tem espírito rasgado e místico”, mesmo que nos tirem os anéis saibamos defender a nossa cultura e identidade que nos circula na seiva dos dedos.