quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Dar vida ao Douro


LINHA DO DOURO

APROVEITAR O LEGADO DO PASSADO PARA ENFRENTAR O FUTURO


No dia 29 de Outubro realizou-se na ponte internacional sobre o Rio Águeda um fervoroso encontro de comunidades raianas.
            Comemoraram-se os 119 anos da inauguração, (1887) da linha de Ferro de Barca D´Alva, que unia o planalto Salmantino ao Parque Natural das Arribas do Douro, encerrada desde 1985.

            Centenas de espanhóis conviveram com dezenas de portugueses, todos unidos por uma causa comum. Dar vida ao património industrial e sobretudo defender o intercâmbio cultural etnográfico e turístico que a reabertura desta linha permitiria.

            Julgo, que só os argumentos histórico/culturais podem prevalecer nesta árdua tarefa de sensibilização dos poderes de Lisboa e de Madrid, pois a realidade dos novos transportes internacionais afastou-se da região, escolhendo outras vias e outros destinos.

            O importante, e a postura que se exige neste momento aos responsáveis locais e aos promotores da ideia é não dispersarem forças contra causas perdidas, mas potenciar aquilo que pode ser feito na valorização do muito que ainda resta da linha férrea e suas infra-estruturas, não desperdiçando esta janela que se abre com novas oportunidades.

            - É necessário limpar e conservar o existente: estações, apeadeiros, pontes, túneis, facilitando assim a visita e o usufruto em condições de segurança.
            - Sinalizar os pontos de referência da linha de forma a serem explorados por novas actividades lúdico desportivas como montanhismo, espeleologia, alpinismo, etc.
            - Colocar painéis informativos com dados sobre a construção, técnicas, materiais utilizados.
            - Criar um centro de interpretação proporcionando visitas acompanhadas, transformando a linha num Eco- Museu –Industrial, a frequentar por escolas, universidades, pelos turistas que sobem o Douro e pelos membros das Associações Internacionais dos Amigos do Comboio.
            - Associar os eventos da linha-férrea a outros das cercanias, criando uma dinâmica difusora das potencialidades regionais, como o turismo fluvial, a gastronomia, os produtos certificados, as visitas a centros produtores de azeite e vinho biológico, os passeios educacionais de barco ao longo das arribas do Douro Internacional sob o olhar vigilante da Cegonha Negra.
- Elaborar roteiros de sítios arqueológicos como as “Gravuras de Foz Côa” ou o “Cavalo de Mazouco” em Freixo de Espada à Cinta.
            - Promover passeios a aldeias históricas como Castelo Rodrigo, Escalhão, Almendra.
            - Atrair os amantes da caça para as reservas do planalto Mirandês e os da pesca para o grande rio e seus afluentes.
            - Divulgar percursos alternativos de descoberta, como o itinerário deslumbrante de Pocinho – Urros – Ligares - Barca D´Alva.

            Será então possível a partir do conhecimento desta riqueza natural, paisagística, histórica e etnográfica caminhar para a divulgação e valorização das potencialidades do Douro actual, nomeadamente os novos acessos, os novos produtos agrícolas e a nova oferta turística-hoteleira..

            É com agrado que se contempla alinhados no horizonte milhares de hectares que estão a ser saibrados com plantações modernas de vinha e olival, só possíveis graças às novas tecnologias dos sistemas de rega gota-a-gota que permitem juntar, agora, às qualidades intrínsecas da terra e do sol,o  poder criador da água.

            No Douro, nomeadamente no superior, existe um diversificado portfólio de sinergias de desenvolvimento, por isso é de louvar a escolha de um dos seus concelhos, para sede da Associação Parques Com Vida.

            Só assim se evitará que a região seja unicamente um lugar de partida.
 Partiram as gentes, partiram os comboios… e até as lapadas de granito, patinadas pelos musgos dos Invernos e mirradas pelo Estio, estão à beira da estrada, colocadas em paletes… à espera da hora da partida.








Hilário Néry de Oliveira
Professor de História

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